Bahia investe na Educação Inclusiva e motiva estudantes

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Sala cheia para realização da prova de Ciências em Braille com a turma da 6ª série na Escola de Primeiro Grau Getúlio Vargas, no bairro do Barbalho, em Salvador. Como geralmente exigem mais tempo, as provas em Braille, respondidas, individualmente, são aplicadas na sala de recursos multifuncionais, onde os estudantes recebem atendimento pedagógico e têm suporte técnico especializado.

Pedro Henrique Pessoa, 16, é o primeiro a acabar e sai confiante: “foi fácil, deu para fazer bem”. Mas nem sempre foi assim. A vontade de estudar não veio de uma hora para outra. São quatro anos frequentando a Escola Getúlio Vargas e, segundo Pedro, foi no decorrer desse período que as coisas ficaram boas. “Nossa sala de recursos inovou e a gente vai receber notebooks para trabalhar na sala de aula”, conta animado.

A Bahia tem mais de 35 mil estudantes com algum tipo de deficiência matriculados na rede básica estadual de Educação. Para atender este público, a Secretaria da Educação do Estado da Bahia vem investindo na estrutura física das escolas bem como na formação dos professores,e, já contabiliza 557 salas multifuncionais instaladas nas escolas públicas da capital e do interior.

Também foram implantados dez Centros de Educação Especial, que prestam atendimento especializado aos estudantes da rede, formando uma espécie de parceria com as salas multifuncionais. Essas ações integram a lista de compromissos do programa Todos pela Escola, desenvolvido pela Secretaria da Educação que visa garantir aos estudantes o direito de aprender.

Professores fazem a diferença - Apesar da tecnologia e do investimento em recursos materiais empregados pela Secretaria em parceria com o Ministério da Educação (MEC) para agilizar a vida dos estudantes, na opinião deles, são os professores que fazem a maior diferença. Novos ou antigos, eles são tidos como verdadeiras conquistas.

“Na 5ª série, tive vários professores novos e nem imaginava que eles iam saber trabalhar, que iam conseguir. Foi surpreendente. No ano passado, tive uma professora de matemática e agora, na segunda vez que ela é minha professora, ensina mais, desenvolveu muito mesmo. Também temos professora de Braille, a atividade sai com rapidez. Esta escola está bem mais apropriada para receber o deficiente”, comemora Pedro Henrique.

E a empolgação de Pedro com os estudos o faz pensar no futuro. Quer trabalhar na área de comunicação com o colega de classe, Felipe dos Santos,16, que, também, está entre os 23 jovens cegos ou parcialmente cegos matriculados nas turmas regulares da escola. “Falo com todo mundo. A maioria dos colegas de sala enxerga. Graças a Deus, ninguém implica comigo. Sempre ajudam ditando as atividades que a professora coloca no quadro. Não tem dificuldade nenhuma”, diz Felipe.

Melhorias - A boa convivência e os avanços na rede física também deixam feliz a diretora da unidade, Cristina Rezende. Ela acrescenta que outro elemento que alavancou a possibilidade de incluir da escola foi a ampliação, pelo MEC, do acervo bibliográfico adaptado aos estudantes cegos e com baixa visão. “Clássicos da nossa literatura como Jorge Amado e Cecília Meireles integram o acervo e os estudantes têm acesso livre à seção Braille da biblioteca. O material didático também é adequado”, diz Cristina.

A diretora conta que, recentemente, o Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual (CAP) doou para a instituição uma impressora Braille. “Passamos a imprimir provas e atividades, a reproduzir nosso material. Facilitou muito”.

Foi, no CAP, que Selma Gomes de Oliveira teve contato, pela primeira vez, com os princípios da educação inclusiva. Ela é uma das professoras especialistas que trabalham na sala multifuncional da Escola Getúlio Vargas. Formada em filosofia, Selma fazia cursos de formação continuada em educação especial no CAP.

Depois de cinco anos na profissão, resolveu se especializar, motivada pelo irmão deficiente auditivo. Agora, ela cursa Especialização em Deficiência Auditiva oferecida pela Secretaria da Educação do Estado e pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Assim como Selma, outros 160 professores estão em formação.

“A sala multifuncional é uma ferramenta que tem impacto positivo na autonomia do estudante. A nossa, por enquanto, recebe estudantes cegos, mas deve atender adequadamente, também, estudantes surdos, ou com deficiência intelectual, por exemplo, por isso estou me especializando. Caso estes procurem a escola, serão bem-atendidos”, atenta a professora.

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