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Educação Integral transforma a vida de estudantes
Para muitos jovens que moram no interior a vida não é nada fácil. A maioria se sente obrigada a abandonar os estudos para ajudar no sustento da família. Mas em Igrapiúna, no Baixo Sul baiano, essa história já começa a mudar. No município, o futuro é cultivado em sala de aula.
Os moradores de Igrapiúna não esperavam muito da vida profissional no município, que apresenta um dos menores índices de desenvolvimento humano (IDH) do estado, 0,601. Foi com a implantação do Colégio Estadual Casa Jovem II que as oportunidades começaram a surgir. Na unidade, de tempo integral, são oferecidas aulas de informática, rádio, capoeira, futebol, teatro e dança.
“Amo estudar aqui. Nessa escola, tenho muitas oportunidades e estou aproveitando todas elas. Agradeço a Deus por esse espaço, já que não são todos os jovens que têm essa oportunidade”, destaca a estudante do segundo ano do ensino médio, Juliana Jesus Santos. Ela é uma das alunas de teatro e garante se dedicar ao curso. “Amo, amo teatro. Descobri minha capacidade de interpretar aqui na escola e quero dar continuidade a esse projeto mesmo depois que completar o ensino médio”.
O motivo para o orgulho dos 381 alunos está nas oportunidades desenvolvidas pelo colégio, onde os estudantes têm a chance de sair com uma profissão. É por meio do curso técnico de agroecologia que os alunos do ensino médio aperfeiçoam o que já aprenderam com seus pais na roça.
O colégio fica na Fazenda Vale do Juliana, da Fundação Odebrecht, onde as aulas práticas são realizadas. No local, os alunos aprendem técnicas de produção de sementes e mudas e até fazer clones de cacau.
“Amo estudar aqui. Nessa escola, tenho muitas oportunidades e estou aproveitando todas elas. Agradeço a Deus por esse espaço, já que não são todos os jovens que têm essa oportunidade” - Juliana Jesus Santos
Ajuda na produção comunitária de melhor qualidade
Com a formação adquirida na escola, os alunos ajudam a melhorar a qualidade dos produtos desenvolvidos pela comunidade e já saem preparados para o mercado de trabalho. Os estudantes de agroecologia fazem estágios na própria Fazenda Juliana e a maior parte dos 299 formados entre 2009 e 2011 trabalha na própria fazenda. Os outros fazem consultoria particular para pequenos e médios produtores da região.
O estudante do segundo ano do curso técnico de agroecologia, Thiago Santana, também sonha alto e já faz planos para o futuro: Quer fazer faculdade de agronomia para continuar trabalhando no campo. Mas antes mesmo de completar o ensino médio, Thiago, junto com os colegas de sala, faz trabalho social na comunidade onde mora. Ele ensina as técnicas de agricultura e sustentabilidade que aprendeu em sala de aula para os pequenos agricultores.
“Eles (agricultores) não sabem como alinhar agricultura à proteção ambiental. O nosso papel é passar isso para eles, além de ensinar técnicas de plantação e cultivo. Na nossa atividade, precisamos de um meio ambiente saudável. Por isso, devemos nos preocupar também com a sustentabilidade. Ensinamos à comunidade a não usar agrotóxicos, não queimar o lixo ou enterrá-lo, porque isso causa vários problemas ao solo e nascentes”, ensina Thiago.
Mas não são apenas os vizinhos e amigos que recebem a consultoria. Em casa, o estudante já desenvolveu técnicas para melhorar a qualidade da plantação e assim aumentar a produção.
O diretor do colégio, Ademário Reis, explica que a consultoria à comunidade faz parte do currículo do curso técnico. De acordo com ele, o aprendizado escolar sempre está alinhado ao cotidiano do aluno. “Os professores estão sempre muito atentos quanto aos conhecimentos do seu dia a dia no campo que podem ser utilizados em sala de aula”.
Cursos de cozinheira e panificação
A comunidade também é beneficiada com cursos profissionalizantes. Entre eles, estão o de cozinheira e panificação, fruto de parceria com o Senai. Formados, muitos alunos desses cursos passaram a trabalhar no próprio colégio. É o caso da cozinheira Maria Lúcia Santos, que trabalha na unidade desde a sua fundação, em 2005. Hoje, ela cozinha para os alunos, professores e funcionários que ficam no colégio durante todo o dia.
“Na região era muito difícil arranjar emprego. Estava numa situação muito ruim, desempregada. Quando soube do curso, fiz imediatamente. Foi isso que garantiu o meu emprego”, diz Maria Lúcia.
Outro morador que aproveitou as oportunidades oferecidas pelo colégio foi o agora padeiro Hélio Santos Silva, 20 anos. Entre a preparação de uma massa e outra, Hélio conta o quanto sua vida melhorou. “Esse curso facilitou muito meu acesso ao mercado de trabalho. Aqui não tinha nada pra fazer. Essa escola nos deu uma grande oportunidade, o que mudou muito a minha vida”.
Entretanto, não são apenas os cursos que ajudam a comunidade. O colégio, em parceria com o Exército, promove instrução militar aos jovens da região que vão servir à instituição. Ali, eles podem desenvolver todas as atividades promovidas pelo Exército sem precisar mudar de cidade.
Redução da evasão escolar
O colégio, que já recebeu três prêmios nacionais, também oferece aos estudantes biblioteca, sala de leitura, radioescola e quadra poliesportiva. Todo esse aprendizado diferenciado, além da parceria com a comunidade, é um dos motivos para que os alunos permaneçam no colégio por mais tempo. O resultado é a redução no índice de evasão escolar.
O diretor explica que o colégio combate a evasão escolar por meio da valorização do campo. “Trazemos para a sala de aula a importância de trabalhar no campo. Quando o estudante percebe que o colégio trata de sua realidade de forma positiva, trata de sua identidade como cidadão do campo, ele fica mais tempo na escola. Fazemos o possível para que nossos alunos permaneçam na sala de aula”.
Por causa dessas iniciativas, em 2010, o Colégio Estadual Casa Jovem II foi eleito Escola Referência em Gestão Escolar – Destaque Brasil, promovido pelo Conselho Nacional de Secretários da Educação (Consed). No ano passado, mais uma vez a unidade foi reconhecida pelo seu trabalho, ganhando o 12º Prêmio Escola Voluntária, desenvolvido pela Fundação Itaú Social e pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação. Essa premiação foi conferida por meio de apresentações teatrais e da poesia apresentada à comunidade. Os temas ajudam na conscientização sobre sustentabilidade e outras áreas de interesse dos moradores de Igrapiúna.
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