Estudantes do Carlos Marighella comemoram mudança de nome da unidade escolar

Ao tempo em que a Secretaria da Educação vem promovendo diversas atividades alusivas aos 50 anos do Golpe Militar de 1964, a comunidade escolar do Colégio Estadual Stiep Carlos Marighella comemora, no dia 11/4, a mudança do nome da instituição – antes batizada Colégio Estadual Garrastazu Médici. Para estudantes, professores e gestores, a mudança significou uma motivação para o conhecimento mais profundo da história baiana e brasileira, por meio de personalidades que estiveram em lados opostos, defendendo interesses políticos-sociais distintos.   

A troca do nome da unidade – publicada no Diário Oficial do dia 14 de fevereiro, portaria nº 865/2014, pela Secretaria da Educação do Estado da Bahia – atendeu à uma antiga reivindicação da comunidade escolar, que realizou eleição e se mobilizou com este objetivo. “Esse movimento mexeu com todos nós porque veio sendo construído coletivamente e tomando corpo. Este ano, tomamos a iniciativa de realizar o processo, do qual os estudantes se envolveram bastante, aprofundando a discussão sobre a ditadura e seus ditadores”, relata a vice-diretora Jane Medrado.

Os alunos, em especial, revelam que se sentiam incomodados de estudar em um colégio batizado com o nome do ex-presidente da República, apoiador do golpe civil-militar de 1964, considerado um dos governos mais repressores do Brasil, com inúmeras denúncias de tortura, morte e desaparecimentos de presos políticos, ao longo da década de 1970. “Achei muito importante essa mudança porque nosso colégio levava o nome de um ditador e isso trazia um desconforto pra gente. Mas, hoje, já podemos dizer que a nossa escola tem o nome de um político revolucionário que lutou pela democracia do país”, declara Gabriel Mamtoam, 16 anos, 3º ano.

O colega Lucas Cardoso, 17 anos, enaltece o nome de Carlos Marighella como uma personalidade política que lutou pelo bem de uma nação inteira, e não de uma minoria da sociedade brasileira. “Pesquisei muito sobre a vida dele e, também, conversei com meus tios, que acompanharam sua trajetória. Pude constatar o quanto ele foi importante para a história do país”.

O professor de filosofia Alexandre Lopes, por sua vez, avalia com um olhar positivo a atitude da comunidade escolar de decidir pela mudança do nome do colégio. “Dentro do processo democrático em que estamos vivendo, é importante que todos os cidadãos possam fazer uma análise crítica da história política de seu país. E, nesse processo de debate aqui, na escola, sobre a ditadura militar, constatamos que, a partir da leitura histórica dos fatos, podemos promover uma transformação do futuro”.

Além disso, completa o docente, a discussão aberta na escola, valeu para que os estudantes refletissem sobre o que significou a ditadura para o país e as suas consequências, destacando que não se tratou de um projeto pensado pela nação.

Processo – A diretora do colégio, Aldair Almeida Dantas, explica que o processo de mudança do nome da unidade foi iniciado a partir de uma série de ações, que culminaram com a eleição. Antes, conforme a gestora, foi feita uma consulta para saber se a mudança ainda era um desejo da comunidade. “Fizemos um trabalho de apresentação sobre o presidente Garrastazu, para que os estudantes conhecessem essa personalidade, e os nomes sugeridos pelo colegiado escolar – Carlos Marighella e Milton Santos – foram colocados em votação”.

Puderam participar da eleição alunos, pais, funcionários e professores. Votaram, no total, 658 pessoas, sendo que 461 votos foram para Carlos Marighella e 132, para o geógrafo Milton Santos . Os demais foram 30 nulos e 35 em branco. Nascido em Salvador, no dia 5 de dezembro de 1911, Carlos Marighella foi um político, guerrilheiro e poeta brasileiro, que se destacou entre os principais organizadores contra o regime militar instituído a partir do golpe de 1964. O revolucionário tornou-se militante profissional em 1934 e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na reorganização do Partido Comunista Brasileiro e fundou, em 1968, a Aliança Libertadora Nacional (ALN). Marighella foi morto em uma emboscada preparada pelos militares, no dia 4 de novembro de 1969.
 

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