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Festival referencia 10 anos da Lei nº 10.639
O I Festival Cultural Fazendo Ciência Experimentando Conexões entre África e Brasil agitou o Colégio Estadual Odorico Tavares, em Salvador, no sábado (26.01). Exposição de desenhos, rodas de capoeira e apresentações de samba de roda lembraram os 10 anos da lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que inclui no currículo oficial das rede de ensinos a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.
Cerca de 400 estudantes do 2º e 3º anos do ensino médio estiveram, no decorrer do ano letivo, diretamente envolvidos com os estudos e as pesquisas científicas que deram forma ao festival. A parceria com a Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal da Bahia (Ufba) contribui com o trabalho interdisciplinar dos professores do colégio para fazer valer a Lei nº 10.639/2003.
Em 2013, esta parceria ficou ainda mais forte depois que um grupo de pesquisa da Faced chamado História da Cultura Corporal Educação Esporte Lazer e Sociedade (Hcel) e o Colégio Odorico Tavares conseguiram, junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), o financiamento para o projeto Experimentando Conexões entre África e Brasil. “O Hcel traz graduandos e pesquisadores para a escola, aproximando a educação básica da academia. Também temos alunos nossos participando como bolsistas do grupo de pesquisa. O objetivo é popularizar a ciência e valorizar o conhecimento”, diz a professora de história do Odorico Tavares, Elizabeth Silva.
O estudante do 3º ano, Kayode Akintúnde, 18, é um dos bolsistas Fapesb. Capoeirista desde criança por influência do pai, durante o I Festival Cultural do Colégio Odorico Tavares, Kayode ministrou uma oficina de movimento para os colegas e também compartilha com eles as descobertas de sua investigação científica. “Trazemos a cultura afro-brasileira, que, normalmente, só se fala por alto. O pessoal não conhece direito, mora aqui, tudo é aqui, a raiz é aqui, mas as pessoas não conhecem. A gente mostra que não é só pagode, que existem outras coisas que são nossas também, criadas aqui.
Escola e universidade - A amizade com a universidade rendeu para os estudantes do ensino médio encontros dentro da escola e fora dela, participação em oficinas, exercícios de produção e edição de vídeos no laboratório de informática e presença em palestras no campus na Ufba, além de visitas a museus e contato com diversos grupos culturais de capoeira. A cultura da capoeira, aliás, foi escolhida como mote para discussão de conceitos relacionados aos legados dos negros africanos para as sociedades brasileira e baiana.
Outra atividade que fez sucesso no I Festival Cultural do Odorico Tavares foi a oficina de desenho comandada pelo estudante do 2º ano, Adson César Souza, 16, que também é bolsista da Fapesb. “Eles foram muito bem para pessoas que não estão muito acostumadas a desenhar. Eu vi muitas coisas que remetem à cultura baiana, à cultura da capoeira, às influências africanas que a Bahia absorveu”, conta Adson sobre a produção dos colegas. O jovem desenhista classifica a si próprio como um artista versátil e revela sua maior inspiração. “Todo dia eu dou uma olhada na internet para ver novidades que possam agregar a minha técnica, que é a universalidade. Gosto de inovar. Estou sempre desenhado o que eu ouço em músicas, tento absorver as verdades das músicas e mostrar a minha visão”.
Para os estudantes da Ufba, a parceria com a escola de educação básica também tem sido bastante rentável, como explica a professora Maria Cecília de Paula, da Faculdade de Educação: “é interessante para a disciplina Aprendizagem e Desenvolvimento Humano em Educação que eles observem formas de educação escolar que saiam do formato tradicional, com perspectiva multi e interdisciplinar. A experiência é excelente. Temos que sair dos muros da universidade e ir para a escola, para a comunidade. Essa oportunidade de trabalhar o conhecimento popular e histórico do Brasil e da Bahia, na perspectiva do saber escolar e ver essa busca para além das grades das disciplinas é fundamental”.
A diretora do Colégio Estadual Odorico Tavares, Rodineia Alves, fala sobre a troca de conhecimentos entre as duas instâncias de educação. “Encontrei no festival uma aluna da Faculdade de Educação que estudou aqui e está de volta pelo projeto com outro olhar, não mais do estudante de educação básica, mas de quem está aprendendo na educação superior. Isso é gratificante e impulsiona o nosso trabalho constante de implementação da Lei 10.639/2003. Um trabalho que perpassa todas as áreas do conhecimento e que precisa ser divulgado para que outras escolas vejam que é possível fazer”.
Ansiosa para se apresentar na quadra com o grupo de samba de roda, a estudante Lanna Katherine, 17, faz um balanço do I Festival Cultural Fazendo Ciência Experimentando Conexões entre África e Brasil. “É uma iniciativa bacana porque traz a cultura negra para dentro do colégio de forma prática. Aqui, você não está só lendo, você está deixando a imaginação fluir e se exercitando, que faz bem. A gente trabalhou com samba de roda, teatro e dança. O que eu vejo é um grande esforço dos professores para que esta lei seja posta em prática. Eu mesma tive que sair para pesquisar as coisas, até a minha família ajudou. É muito legal, faz com que a gente construa o aprendizado”.
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