Referenciais curriculares para Educação das Relações Étnico-Raciais são debatidos em audiência pública

A Secretaria da Educação do Estado da Bahia apresenta, em julho, os referenciais curriculares que nortearão o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas da rede estadual. O documento preliminar, finalizado na sexta-feira (27), no Instituto Anísio Teixeira (IAT), em Salvador, será encaminhado ao Conselho Nacional de Educação e deve firmar as Diretrizes Estaduais para Educação das Relações Étnico-Raciais.

“Saímos daqui prontos para atender uma reivindicação antiga dos educadores: um referencial que contempla todas as áreas do conhecimento, pensado para ajudá-los a cumprir a lei nº 10.639/03, a incluir no currículo escolar o ensino da história da África”, anuncia a coordenadora de Educação para Relações Étnico-Raciais da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, Nádia Cardoso.

Cerca de 200 pessoas, entre educadores, lideranças quilombolas e representantes de movimentos sociais e organizações sociais negras contribuíram diretamente para a elaboração do documento, concluído após quatro audiências públicas, realizadas no período de um ano. O referencial apresenta reflexões originadas destas escutas e práticas bem sucedidas já implantadas em escolas da capital e do interior, bem como experiências de ativistas negros que vêm, ao longo da vida, se dedicando à Educação e à Cultura como meio de inclusão social e ferramenta na luta contra o racismo, discriminação e violência.

É o caso de Makota Valdina. Educadora e símbolo da luta contra a discriminação racial, ela conta que sempre trabalhou a história dos negos na sala de aula. “Era tudo do nosso próprio fazer. Não tinha lei, não tinha diretriz. Pegávamos as letras das músicas, os panfletos que os educadores que estavam na ativa confeccionavam”. Para Valdina é tempo de celebrar um avanço. “Isso aqui não é uma atividade isolada, é fruto de uma caminhada. Por isso, a gente que veio antes tem que estar aqui e aproveitar esse momento”, completou.

A diretora do Ilê Ayê, Arany Santana, também é professora e compartilha, com otimismo, a realidade vivenciada por Makota Valdina. “Fizemos tanto de maneira informal, com esforço próprio. Quem nos ensinou a história da África não foi a Academia. Elevamos a autoestima das mulheres negras, fizemos músicas que cantam a resistência, que ressaltam a beleza. Agora vou esperar para ver a escola fazer e com fé em Deus, vai acontecer. Estamos mais maduros. O educador sabe que precisa assumir o seu papel que, para isso, tem que ter identidade, se autorreconhecer, saber a sua própria história, estar preparado”.

E reconhecimento da identidade foi o que inspirou as colocações do professor de educação física Nauber Leite Costa – o mestre Soldado, a respeito da Capoeira. “No imaginário social, o esporte ainda é o único conteúdo das aulas de educação física. Mas cultura afro-brasileira traz danças, lutas, jogos, brincadeiras. A capoeira precisa configurar nos conteúdos curriculares da escola, fazer parte da formação dos nossos estudantes. Está presente em mais de 160 países, sendo o maior divulgador da língua brasileira. Suas músicas são cantadas em português, não há tradução”, defende o professor, enfatizando, ainda, o cuidado que se deve ter com a formação docente. “É preciso que as universidades pensem nas disciplinas para preparar o professor para ensinar a história africana e afro-brasileira”.
 

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