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UNESCO lança na Bahia edição em português da coleção História Geral da África
Professores de escolas públicas e privadas de todo o país podem contar agora com um amplo material de pesquisa. Desde 2003, com a implementação da Lei 10.639, que tornou obrigatória a inclusão da história e cultura afro-brasileira nos currículos escolares, o lançamento nesta segunda-feira (4), na Reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba), em Salvador, da coleção História Geral da África, da Unesco, se configura como uma ferramenta essencial para ampliar o conhecimento da sociedade brasileira sobre como os diferentes saberes africanos têm colaborado para a cultura e a produção de conteúdo científico mundial.
O evento, que apresentou a edição em português da coleção, contou com a presença do governador Jaques Wagner, da ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Luiza Bairros, dos secretários estaduais de Cultura e da Educação (Albino Rubim e Osvaldo Barreto), além de representantes do Ministério da Educação (MEC) e da Unesco no Brasil.
Segundo o governador, o lançamento na Bahia é apropriado, “na medida em que somos a terra-mãe do Brasil e o local mais negro fora da África, pela cultura, pela nossa gente e pela religiosidade”. Ele parabenizou os pesquisadores pela determinação e obstinação do trabalho desenvolvido por mais de 30 anos. “Esse lançamento brinda o país com a tradução em língua portuguesa. Esse é o resgate mais importante, já que representa o reconhecimento da história sobre o olhar dos negros e da afirmação da autoestima de toda essa cultura”.
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Luiza Bairros declarou que o bloco Ilê Aiyê prega, ao longo dos anos, que a Bahia é uma nação africana, pela presença de uma cultura que define as formas de ser e viver da população. “Os próprios pesquisadores africanos têm a oportunidade de identificar essa presença africana”. E destacou que esse é mais um passo para a igualdade racial. “A coleção será a base para preparação dos materiais didáticos para tornar uma realidade: o ensino da história da cultura africana e afro-brasileira em sala de aula”.
Conteúdo - A obra é considerada um divisor de águas na historiografia da região, porque explica o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outros povos, a partir de uma visão obtida de dentro do continente. A coleção traz dez mil páginas e conta a história do continente de maneira interdisciplinar. Os livros vão ficar disponíveis em todas as bibliotecas públicas do estado para servir como um novo referencial pedagógico.
“Essa coleção se constituirá num importante material de referência para construção de conteúdo pedagógico. Com essa versão em português, a educação brasileira ganha com o reconhecimento da cultura africana para formação do nosso país. A coleção ultrapassa as fronteiras do território brasileiro, como material de estudo para países da África de língua portuguesa”, afirmou o secretário estadual da Educação, Osvaldo Barreto.
Obra de referência - Publicada pela Unesco a partir dos anos 80, a coleção é ainda hoje a principal obra de referência sobre o assunto. Foi produzida ao longo de 30 anos por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um comitê científico internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.
Com versão completa editada em inglês, francês e árabe, a publicação agora é disponibilizada em português com os oito volumes que a compõem. A obra em português foi editada pela Unesco, em parceria com o MEC, sob a coordenação técnica da Universidade Federal de São Carlos (SP).
Para o coordenador-geral de Diversidade do MEC, Antônio Mário Ferreira, a coleção atende à necessidade de construção da história do negro no Brasil. Ele sinalizou que até 1988, considerado o marco do centenário da Abolição, o início das pesquisas sobre a participação do negro na história do Brasil tinha como alusão a escravidão. “Não nascemos da escravidão e sim em outro continente. Essa é uma oportunidade de trazer à história a nossa participação na humanidade para podermos construir o nosso futuro”.
O representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny, disse que o diferencial da obra é a possibilidade de mudar a ideia equivocada de que a África é um continente sem história, já que a publicação reconhece um período de mais de três milhões de anos. “O pensamento da história demonstra que muitas coisas nasceram ou se desenvolveram lá”.
Defourny ressaltou que durante muito tempo a matriz europeia foi incorporada de uma forma dominante e exclusiva e que todo discurso feito sobre democracia racial foi uma forma de tornar invisível a importância da herança africana. “A história geral do continente é uma forma de dizer que o racismo não tem nenhum tipo de base”.
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