Colégio estadual em Santa Inês é referência para comunidade

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Foto: Elói Corrêa/GOVBA
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
De segunda a sexta-feira, o Colégio Estadual Antônio Carlos Magalhães, localizado no município de Santa Inês, no vale do Jiquiriçá, mantém os portões abertos durante todo o dia e funciona como uma segunda casa para os cerca de 800 alunos, além de professores, servidores e comunidade. Com aulas nos três turnos, a instituição alcançou posição de destaque e referência na cidade, pelo trabalho que desenvolve dentro e fora das salas de aula, conquistando o respeito e a admiração dos santinenses e dos visitantes que conhecem as instalações do colégio.
 
Para que o desenvolvimento de todas as iniciativas fosse possível, foi realizada uma reforma gradativa na instituição, que durou cerca de oito anos. Atualmente, ela conta com uma estrutura equipada para desenvolver o potencial dos estudantes. Além das salas de aula, sala de projeção de vídeos, laboratório de informática, espaço para aulas de artes marciais, quadras, teatro, espaço de leitura ao ar livre, centro cultural e biblioteca dão o tom da nova realidade da escola - o desenvolvimento de múltiplas habilidades.
 
Entre as dezenas de projetos promovidos pelo colégio, que envolvem esportes, música, literatura, poesia, artes plásticas, teatro e produção de vídeos, os estudantes participam de fanfarras, fazem apresentações de cordel, compõem, dançam, desenham e ainda conseguem tempo para cuidar do projeto da horta da escola, chamada de “Nosso Quintal”, premiado com o prêmio de Boas Práticas, em 2014, e de onde sai parte dos alimentos saudáveis que são utilizados na merenda escolar. Muitos desses alunos já foram premiados em projetos estruturantes da Secretaria da Educação do Estado, como o Tempos de Arte Literária (TAL), Arte Visuais Estudantis (AVE) e o Produções de Vídeos Estudantis (Prove).
 
O estudante de 19 anos, Matheus Brito, que repetiu algumas vezes o 1º ano do ensino médio, contou que foi depois de participar da produção de vídeos do Prove que decidiu se dedicar mais aos estudos. Como resultado desse empenho, passou de ano e ainda venceu as etapas regionais do projeto em 2015. Este ano ele concorrerá, mais uma vez, com um vídeo que denuncia a violência contra a mulher. “Eu cheguei aqui em 2014, muito desinteressado. Depois de participar de tantas atividades foi que eu pensei em estudar mais e consegui passar de ano. Eu já gostava de vídeos, mas não sabia nem por onde começar a produzir, e foi a orientação da escola e a parceria com os meus colegas que permitiram que isso tudo acontecesse”, contou o estudante do 2º ano. 
 
Comprometimento
No Colégio Estadual Antônio Carlos Magalhães também é reforçada a importância do cuidado com as árvores e com toda a estrutura e o patrimônio do colégio, o que é motivo de satisfação para a direção, que se orgulha da limpeza e da organização da unidade. Para a diretora, Edna Adriana Lima, desenvolver essa postura faz parte da proposta pedagógica da instituição e do que chamou de “gestão participativa”, praticada na escola. “Trabalhamos aqui o princípio da responsabilidade do bem público, do comprometimento de todos e do trabalho em equipe. Conseguimos desenvolver em toda a comunidade o sentimento de pertença. Isso aqui é meu, é minha casa, eu preciso cuidar. Se eu não jogo papel no meu quarto, se eu não sujo a sala da minha mãe, se eu não jogo comida na minha mesa, por que eu vou fazer isso na minha escola? Então eu tenho que manter a minha escola limpa, organizada, arrumada, todos os dias, em todos os momentos, porque eu a recebo assim. E isso é uma questão de respeito para com o outro, todos juntos trabalhando em um só objetivo”, contou Edna.
 
Para manter toda essa estrutura, o comprometimento e o trabalho em equipe são fundamentais. Equipe essa formada, em sua grande maioria, por ex-alunos da escola, como é o caso do professor Valmir. O sétimo dos 11 filhos de um casal de agricultores, o professor de história, Valmir Braga, estudou no Colégio Antônio Carlos Magalhães e hoje é um exemplo para os alunos. Depois de se formar no chamado Magistério, ele cursou História através de uma bolsa de estudos; geografia, em uma instituição federal e, atualmente, conclui um curso de mestrado. Emocionado, o professor relembra a sua trajetória de vida e pensa que um dia esteve no lugar de seus alunos.
 
“Meus pais moravam na zona rural e o sonho deles era que eu conseguisse entrar para a universidade, e foi aqui na escola que eu consegui abrir os meus olhos. Desde o primeiro momento, eu sabia que não queria ser médico ou advogado, queria ser professor. E queria ensinar aqui, na minha escola. Porque eu vim de uma situação de vulnerabilidade social muito grande e hoje olho para os alunos em sala de aula e vejo que não é diferente. Eles vêm da periferia, enfrentam a questão das drogas, passam por problemas em casa, por necessidade até de alimentação. Minha felicidade é fazê-los perceber que, ainda assim, com todas as dificuldades, um dia eles podem estar no meu lugar, ou ir ainda mais longe”, contou Valmir, com lágrimas nos olhos.
 
Inclusão
A escola estadual também está preparada e atende um grupo de alunos com necessidades especiais, sejam elas de deficiência no aprendizado, na locomoção ou motora. Para a diretora, esse foi um passo importante e muito aguardado pela comunidade escolar. “Passamos quatro anos da gestão arrumando a escola para poder receber alunos com necessidades específicas e tivemos uma felicidade muito grande quando apareceu o primeiro. Porque encorajamos a primeira mãe a trazer o filho para um universo tão grande, sair de uma escola pequenininha e vir para um espaço como esse. Nós ganhamos a confiança dos pais de que em qualquer lugar tem que ser feito educação, tem que se priorizar as pessoas, e aqui fazemos isso e acolhemos a todos como devem ser acolhidos”, destacou.
 
Participação da comunidade
Os moradores de Santa Inês também participam da vida escolar desses alunos, através de projetos como o da fanfarra, que admite ex-alunos e demais jovens da cidade; ou como as aulas de boxe, ministradas pelo professor Samuel dos Santos, que durante o dia trabalha como pedreiro. À noite, três vezes por semana, ele dedica cerca de duas horas do seu tempo para ensinar boxe aos alunos da escola e também à comunidade. O espaço onde são realizadas as aulas gratuitas é cedido pelo colégio.
 
“É um trabalho voluntário, porque eu gosto disso, da força de vontade dos garotos em querer aprender. Esse tempo que eles estão aqui treinando, estão livres de muitas outras coisas, de estar nas ruas, de usar drogas. Além disso, a gente vai educando de forma a não utilizar o esporte como violência, o que a gente aprende aqui é para um bem próprio. Inclusive, uma das regras é: aquele que utilizar o que aprendeu nas aulas de boxe nas ruas, como violência, será afastado”, ressalta o professor.
 

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