Professor Paulo Pontes relata momentos vividos no período da ditadura militar

No dia em que o Brasil lembra os 50 anos do Golpe de 1964, o economista e professor Paulo Pontes, ex-preso político e atual chefe de gabinete da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, faz um relato sobre a Ditadura Civil Militar. Em 1º de abril de 1964, ele participou de uma manifestação estudantil em Pernambuco contra a repressão e não imaginava que este ato, segundo ele, inocente, iria transformar os rumos do País e marcar para sempre a história de sua vida.

“Nessa manifestação, participei como um estudante comum, não era envolvido com nenhuma organização política e presenciei a morte de seis pessoas, entre elas a do meu colega Jonas José, de 16 anos. Aquela foi a minha primeira participação contra a ditadura militar. A partir daí, passei a integrar o Grêmio Estudantil do colégio e participar do Clube Literário Monteiro Lobato. Motivo para ter sido intimado, fichado e detido várias vezes pelo DOPS de Pernambuco”, relata.

 

Nesta terça-feira (01/04), Paulo Pontes participou de um ato político contra o que representou a ditadura militar no Brasil, no Forte do Barbalho, o principal centro de tortura na Bahia. O nome dele foi incluído em uma placa que lembra todos aqueles que foram presos e torturados no local. Na Bahia, ele permaneceu preso por mais de oito anos na Penitenciária Lemos de Brito.

Em 1968, Paulo Pontes foi preso numa manifestação popular contra o regime militar que já tinha vitimado muitos combatentes, entre os quais o estudante Edson Luís. “A partir daí, comecei a ser processado pela justiça militar e pela justiça civil e fui condenado. Desde então, passei a me envolver cada vez mais com a luta política contra o golpe militar e resolvi não me entregar, entrando para a clandestinidade”.

Paulo Pontes lembrou, ainda, momentos marcantes da sua participação política contra o golpe  em Pernambuco (sua terra natal); a sua vinda para a Bahia, como fugitivo do regime; sua prisão em outubro de 1970; os momentos de tortura a que sofreu e o assassinato da sua então esposa, Lourdes Maria Vanderley Pontes, no Rio de Janeiro, pelos mãos dos militares.

Apesar das memórias e a tortura de milhares de brasileiros, Paulo Pontes ressalta que é preciso chamar a atenção da população sobre esse momento da história brasileira, especialmente dos estudantes, repudiando o fato de o Brasil ser o único país da América Latina que ainda não abriu todos os arquivos da ditadura militar e nenhum torturador respondeu pelos seus atos criminosos. “Há uma tendência, aqui, de prescrever crimes, como o da escravidão, o das mortes da Guerra de Canudos e do próprio golpe militar. Mas não podemos ser o país da amnésia. Temos que colocar as feridas para fora e abrir a discussão sobre o que foi certo e o que não foi. O regime militar, com a censura,  praticou a deformação da informação. Cabe a nós refletirmos e manifestarmos contra aquele período que trouxe sérias consequências para o nosso país”, concluiu.

 

Ouça entrevista do professor Paulo Pontes à Rádio Cruzeiro:

 

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