Comunidades quilombolas

Comunidades quilombolas

Atualmente, o Estado da Bahia, juntamente com o Maranhão, possui maior concentração de comunidades quilombolas no Brasil. São mais de 500 comunidades somente na Bahia, das quais 381 já foram certificadas pela Fundação Cultural Palmares, órgão do Ministério da Cultura. Portanto, é estratégico para o governo da Bahia construir e executar uma política estadual de promoção de direitos à terra.... para as comunidades quilombolas.

As comunidades quilombolas têm sido historicamente invisibilizadas nas diversas esferas da sociedade brasileira desde o processo de escravização. Um marco importante para essa comunidade foi a Constituição de 1988, a qual representou um divisor de águas ao incorporar em seu conteúdo o reconhecimento de que o Brasil é um Estado pluriétnico, ao reconhecer que há outras percepções e usos da terra para além da lógica de terra, e o direito à manutenção da cultura e dos costumes às comunidades e povos aqui viventes. Infelizmente, em muitas comunidades quilombolas, nas várias regiões do País, se faz presente uma grave situação de vulnerabilidade e insegurança sócio-educacional.

Essa situação se relaciona, em grande parte, ao conflito sobre a posse de terras por elas ocupadas e também à precariedade do acesso à infraestrutura básica necessária para a efetivação de condições de vida dignas. Os reflexos estão expressos, por exemplo, na irregularidade fundiária da grande maioria dos territórios quilombolas, na falta de acesso à água potável, saneamento básico, educação e saúde.

A Conferência Nacional de Educação (CONAE) que aconteceu em Brasília, 2010, realizou um debate sobre a ‘diversidade’ no campo da política educacional. As discussões da CONAE resultaram na inclusão da educação escolar quilombola como modalidade da educação básica no Parecer CNE/CEB 07/2010 e na Resolução CNE/CEB 04/2010, que instituem as Diretrizes Curriculares Gerais para a Educação Básica. Isso significa que a regulamentação da Educação Escolar Quilombola nos sistemas de ensino deverá ser consolidada em nível nacional e seguir orientações curriculares gerais da Educação Básica e, ao mesmo tempo, garantir a especificidade das vivências, realidades e histórias das comunidades quilombolas do país.

A Organização dos Quilombos e a sua Inscrição na História do Brasil

Os quilombos, segundo Munanga (1995), surgiram na África entre os séculos XV e XVI como uma necessidade político/militar dos grupos étnicos bantu que precisavam ocupar territórios desabitados nos seus percursos migratórios. Ao longo do tempo outras etnias, situadas na região compreendida entre Angola e Zaire, incorporariam a experiência, transformando-a, e conferindo à mesma um caráter pluriétnico (Munanga: 1995). Isso explicaria, segundo o autor, a facilidade com que o modelo organizacional africano de quilombo se adaptasse no Brasil incorporando indivíduos e grupos sociais não-africanos nas várias regiões de ocorrência do fenômeno. Na magnífica experiência de Palmares, foi significativa a presença de negros crioulos (designação dada pela historiografia aos negros nascidos no Brasil), de índios e, em menor proporção, de brancos marginalizados socialmente.

A historiografia clássica designou como quilombo ou mucambo àqueles sítios onde se acoitavam escravos fugidos das fazendas (Rodrigues: 1977; Ramos: 1956). Essa noção foi em grande parte apropriada pelos historiadores pela difusão da consulta do Conselho Ultramarino ao Rei de Portugal, em 1740, que assim concebeu o fenômeno: “Toda habitação de negros fugidos que passem de 05 (cinco), em parte despovoada, ainda que não tenha ranchos levantados nem se ache pilões neles.” (Silva: 1995).

A definição de quilombo nos termos citados, influenciada, sobretudo, pela repercussão política criada pela “Guerra de Palmares”, passaria ser empregada doravante com um sentido de alerta às autoridades sobre os perigos que representavam os negros que buscavam outras opções de sobrevivência fora do sistema escravista. Com esse mesmo conteúdo, de que as formações quilombolas seriam derivadas exclusivamente dos escravos fugidos, esse conceito seria incorporado pelos historiadores como uma verdade irrefutável. Só recentemente os estudos histórico-antropológicos têm procurado relativizar a validade universal dessa noção de que todos os quilombos na história do Brasil teriam sido constituídos de negros fugidos.

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